sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Poeta dos poetas


Vinicius era admirado não apenas por sua obra. Antes de poeta, ele foi uma pessoa querida por todos seus companheiros, parceiros e amigos. Um carioca da gema, como podemos definir pelo seu amor à cidade, que pode ser comprovado através dos sonetos e músicas. Nosso poetinha faleceu no Rio de Janeiro em 9 de Julho de 1980, mas seu legado ainda está presente nos corações dos apaixonados. Apaixonados pela vida, acima de tudo.


Cada vez que leio seus poemas, sonetos e prosas sinto como se tudo estivesse ao meu favor, uma doce ilusão. São nesses momentos de leitura que me sinto verdadeiramente feliz, me passa mil histórias a minha cabeça. A forma como retrata a mulher, o amor e o erotismo são únicas. Adoro-o principalmente pela maneira de como a mulher é descrita, suas formas, gestos e amores.


A mulher na noite
Eu fiquei imóvel e no escuro tu vieste.
A chuva batia nas vidraças e escorria nas calhas – vinhas andando e eu não te via
Contudo a volúpia entrou em mim e ulcerou a treva nos meus olhos.
Eu estava imóvel – tu caminhavas para mim como um pinheiro erguido
E de repente, não sei, me vi acorrentado no descampado, no meio de insetos
E as formigas me passeavam pelo corpo úmido.
Do teu corpo balouçante saíam cobras que se eriçavam sobre o meu peito
E muito ao longe me parecia ouvir uivos de lobas.
E então a aragem começou a descer e me arrepiou os nervos
E os insetos se ocultavam nos meus ouvidos e zunzunavam sobre os meus lábios.
Eu queria me levantar porque grandes reses me lambiam o rosto
E cabras cheirando forte urinavam sobre as minhas pernas.
Uma angústia de morte começou a se apossar do meu ser
As formigas iam e vinham, os insetos procriavam e zumbiam do meu desespero
E eu comecei a sufocar sob a rês que me lambia.
Nesse momento as cobras apertaram o meu pescoço
E a chuva despejou sobre mim torrentes amargas.

Eu me levantei e comecei a chegar, me parecia vir de longe
E não havia mais vida na minha frente.



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