sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A versão obscura dos contos de fada

Ah, os contos de fada da nossa infância. Tão inocentes e doces não? Não! Não são nada inocentes. Aquelas princesinhas, menininhas, caçadores, princípes não são bem o que parecem. O  valor dessas histórias é duradouro pois reside no poder de ajudar as crianças a lidar com os conflitos internos que elas enfrentam no processo de crescimento.




Cada um dos principais contos de fadas é único, no sentido em que trata de uma predisposição falha ou doentia do eu. Logo que passamos do "era uma vez", descobrimos que os contos de fada falam de vaidade, gula, inveja, luxúria, hipocrisia, avareza ou preguiça - os "sete pecados capitais da infância". Embora um determinado conto de fada possa tratar de mais de um "pecado", em geral um deles ocupa o centro da trama.

O modo pelo qual os contos de fada resolvem esses conflitos é oferecendo às crianças um palco onde elas podem representar seus conflitos interiores. As crianças, quando ouvem um conto de fada, projetam inconscientemente partes delas mesmas em vários personagens da história, usando-os como repositórios psicológicos para elementos contraditórios do eu.

Diferentemente do que se poderia pensar, os contos de fadas não foram escritos para crianças, muito menos para transmitir ensinamentos morais. Em sua forma original, os textos traziam doses fortes de adultério, incesto, canibalismo e mortes hediondas.

Originalmente concebidos como entretenimento para adultos, os contos de fadas eram contados em reuniões sociais, nas salas de fiar, nos campos e em outros ambientes onde os adultos se reuniam - não nas creches. É por isso que muitos dos primeiros contos de fada incluíam exibicionismo, estupro e voyeurismo (prazer em observar outras pessoas).

Vamos começar por Chapeuzinho Vermelho.



A história acho que todos conhecem: Uma meninha que leva os docinhos para sua vô que está doente. Precisa atravessar a floresta para visitá-la e se preocupar com um lobo que habita na região. A menina desobedece a mãe e opta por ir pelo caminho mais rápido. Resultado: Lobo "come" a vovozinha, se disfarça de velha, a barriga do lobo é aberta pelo caçador e todos vivem felizes para sempre. Porém, não é bem isso que acontece.

Em outra versão ainda mais antiga, a chapeuzinho faz um strip-tease para o lobo (que as vezes era representado por um lobisomem ou um ogro) para assim poder fugir enquanto ele esta "distraído". Existe ainda uma versão mais bizarra ainda da história, onde o lobo estripa a vovó e obriga a chapeuzinho a jantá-la com ele. A chapeuzinho, que não é besta, diz que precisa ir ao banheiro (que naquela época ficava do lado de fora das casas) e foge.
Branca de Neve




Na história "popular", a Branca de Neve vai morar com os sete anões, é envenenada pela maçã da bruxa e o príncipe a beija fazendo-a retornar a vida.

Agora na história original,  a "madrasta malvada" (que em algumas versões não é madrasta e sim sua mãe original) não cai de um penhasco como é mostrado no final do filme da Disney. Ela na verdade é forçada a vestir sapatos de ferro em brasa e dançar até cair morta. Outra bizarrice nessa história é a idade da branca de neve. Na versão dos Irmãos Grimm ela tem apenas sete anos. Ao invés de dar um "beijo de amor", o principie carrega o corpo morto (ou adormecido) da branca de neve para seu palácio, para que assim ela estivesse sempre com ele... Depois de algum tempo, um de seus servos, cansado de ter que carregar um caixão de um lado pro outro, resolve descontar suas frustrações dando uma baita surra na branca de neve. Um dos golpes desferidos no estômago faz com que ela vomite a maçã envenenada e assim volte à vida.

Mas de todas as mudanças feitas através dos anos, a mais sangrenta foi em relação ao coração da Branca de Neve. Nas histórias mais antigas a rainha não pedia ao caçador para trazer só o músculo. Ela queria também outros órgãos principais como pulmão, fígado etc... Fora isso ela também queria um jarro com seu sangue (acho que o caçador precisou mais que um cervo pra resolver isso). Simples, ela queria jantar a branca de neve. Bizarro não!?

A Bela Adormecida



Essa sim tem um passado bizarro. Nas primeiras versões, ao invés de espetar o dedo numa agulha e cair desacordada, a bela adormecida tinha uma "farpa" encravada debaixo da unha. Parece uma mudança pequena, mas ela nos leva ao ponto que realmente importa. Nessa mesma versão, o príncipe não é tão encantado assim, e resolve, digamos... se satisfazer na bela ainda adormecida. Depois, ele simplesmente vai embora. Nove meses depois, a adormecida dá luz a gêmeos que, em busca de leite acabam acidentalmente chupando o dedo dela, retirando assim a farpa amaldiçoada.

E a coisa não para por ai, o príncipe que a engravidou  continuou voltando durante os nove meses. Quando ele chegou lá e encontrou a bela, já não mais adormecida e com duas crianças, ele decidiu se casar com ela, mas ele não poderia levá-la ao seu castelo, pois sua mãe era uma ogra que tinha o habito de comer qualquer criança que aparecesse em seu caminho.

Por isso ele esperou alguns anos até que seu pai morresse e ele virasse rei para aí então poder levar sua mulher para seu reino. E assim aconteceu, mas na primeira viagem que ele fez, sua mãe resolveu fazer o que todo ogro tem que fazer: comer seus dois netos, e não satisfeita, também sua nora. Mas, com a ajuda do cozinheiro, a bela acordada conseguiu se esconder até o retorno de seu marido que quando ficou sabendo dos planos de sua mãe mandou mata-la.

Cinderela



Esse é um dos contos de fadas mais antigos já registrados, e com a maior quantidade de variações também. Em algumas versões, há um peixe gigante no lugar da fada madrinha  Em outras histórias a fada madrinha é na verdade uma árvore que nasce sobre o túmulo da mãe da Cinderela.

Uma das modificações mais brutais ocorre no momento em que as irmãs malvadas tentam calçar os sapatos de cristal para enganar o príncipe. Numa versão bem bizarra da história, uma delas corta fora seus dedos do pé para vestir o sapatinho e assim enganar o príncipe. Mas ela é desmascarada pelos pássaros amigos da Cinderela, que mostram ao príncipe o sangue escorrendo pelos sapatinhos, e depois, como vingança, arrancam os olhos das duas irmãs que terminam suas vidas cegas e mancas.

Há ainda uma outra versão onde a cinderela era filha de um rei viúvo que jurou nunca mais se casar, a não ser que encontre uma mulher tão bela quanto a falecida esposa, que tivesse os cabelos cor de ouro, e que conseguisse calçar os mesmos sapatos da finada. Acaba que sua filha (cinderela) preenche todos os requisitos, como 2 e 2 são 4, nada mais lógico que ele se casar com a própria filha.

João e Maria 



Essa por si só já é assustadora, afinal, um pai que larga os filhos na floresta para morrer de fome não é lá o tipo de coisa que se lê para crianças certo!? Mas, numa versão mais antiga, a madrasta má, que pressiona o marido a lagar seus filhos na floresta, e a bruxa são a mesma pessoa. Apresentando características bem similares. Outra alteração feita durante os anos foi com relação à própria bruxa que, em certa versão da história, na verdade é um casal de demônios, e ao invés de cozinhar João, eles querem estripa-lo num cavalete de madeira.

Quando o demônio sai para uma caminhada, a "demônia" manda Maria ajudar João a subir no cavalete, assim, quando seu marido voltar, tudo já estaria preparado. A esperta Maria finge não saber como colocar João deitado e pede para a "demônia" mostrar como se faz. Quando ela deita no cavalete, João e Maria a amarram ela e rapidamente cortam sua garganta. Depois fogem levando o dinheiro e a carroça do casal de demônios.

O Flautista de Hamelin



Nessa historia, um tocador de flautas mágico é contratado por uma cidade para livra-la de uma infestação de ratos. Ele cumpre seu papel, mas quando volta para receber seu tão suado dinheirinho, a cidade se recusa a pagar. Daí, como vingança, ele usa os poderes de sua flauta para raptar todas as crianças da cidade e só as devolve após receber seu pagamento.

Até aqui tudo "normal", mensagem positiva e uma moral no fim da historia. Mas, o conto original não é bem assim, nele, o encantador não devolve as crianças depois de receber da relutante cidade. Na verdade ele faz com que elas todas se afoguem num rio. E, em algumas versões ainda mais antigas, há referencias a pedofilia em massa dentro de uma caverna escura.

A pequena sereia



A grande diferença nesse conto está em seu final. Ao invés de se casar com o príncipe e viver feliz para sempre, a pequena sereia na verdade é abandonada por ele logo após ela beber a poção mágica que lhe transforma em mulher. Mas, como tudo tem seu preço, a poção tem um pequeno efeito colateral: durante o resto de sua vida a pequena ex-sereia iria sentir uma dor tremenda nos pés, como se eles estivesse pisando constantemente em facas. Vendo a traição, alguém oferece um punhal para que ela tenha sua vingança. Mas, ao invés disso, ela pula no mar e morre se dissolvendo em espuma. Bom, comparado com a chapeuzinho vermelho, essa é até bem tranquila.







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